natália nuñez
sapatão em cazimi
quando ele fala do assalto ao que nos falta é como falar de toda ferida. ralar é queimar de leve morrer por pouco. quando a gente consegue abrir o olho e encostar o dedo sujo na pele que já tem água viscosa. tudo é um convite ferino. uma maneira de escolher como ficar. a gente assalta o que nos falta é a imagem que mais repito de moisés. escrever para repetir quantas vezes forem necessárias. não fazer sentido por uma questão. eu tenho um nome que as pessoas repetem e pode não ser eu.
eu odeio pedir. quero o som mais simples
venho para falar de livros. eu fui uma criança. segurava um folheto para falar sobre a linha tênue entre salvação e castigo. para ela desde a origem do mundo as coisas não saem como planejadas mas alguma promessa aqui e ali se cumpre. estamos o tempo todo a um desejo de perder tudo. mesmo quando toda linhagem é de origem divina. só não tem culpa de falar com o diabo quem está sendo ameaçado por deus. quando o caminho é desvio você se pergunta sobre sua disposição à morte. penso em tristezas maiores que as minhas. no livro mais vendido do mundo.
repito muito a palavra escapar e não concordo
todo mundo tem a sua própria razão
isso não quer dizer que toda razão é justa
nem que a justiça não seja sobre ferir alguém
você bate palma portuguesa depois de todos esses anos
tudo o que seus olhos tornam seu é confusão
e confundir é um afogamento de ambos os lados
a gente nunca sabe onde as coisas vão parar nas pessoas
todo mundo tem a sua própria razão
isso não quer dizer que toda razão é justa
nem que a justiça não seja sobre ferir alguém
você bate palma portuguesa depois de todos esses anos
tudo o que seus olhos tornam seu é confusão
e confundir é um afogamento de ambos os lados
a gente nunca sabe onde as coisas vão parar nas pessoas
É incrível esse tempo que nos resta.
Nunca sei o que faço com as sobras.
Nunca sei o que faço com as sobras.
eu vou embora é uma frase que repito muito
embora o que eu não digo seja mais
embora o que eu não digo seja mais
quer queira quer não
as coisas repetem dentro da gente
digo repetem de coisas que são anteriores
ao ponto de estarem também antevendo
as coisas repetem dentro da gente
digo repetem de coisas que são anteriores
ao ponto de estarem também antevendo
o pedido certo é o que não gera arrependimento (
mesmo quando ele próprio dá errado
mesmo quando ele próprio dá errado
amor é quando tudo isso é dançado
numa velocidade lenta
até que você desenlace
um de seus lutos inevitáveis
numa velocidade lenta
até que você desenlace
um de seus lutos inevitáveis
é a minha ladainha ser triste para manter a memória na frente dos óculos. essa coisa de ser si mesma é uma circularidade. é por isso que existe a palavra ensimesmar. tenho as minhas circularidades também porque há coisas que não são uma questão de ângulo. é mais confortável dizer adeus do que tchau em português. eu prefiro falar a minha língua porque gosto da rua de casa. não gosto de me despedir. todo mundo senta um tempo junto depois de jogar futebol. mas as meninas são proibidas de jogar. ela apoia o braço sobre a arquibancada com facas na cintura como se fosse ava rocha. não dou adeus. atravesso dias como uma mulher mesmo duvidando das questões de gênero. não lembro a data em que escolhemos a mão pela qual escreveremos todas as histórias daqui para frente.
a tatiana cita o umbigo do sonho quando escreve sobre a ferida da coisa retirada. ou foi como eu entendi. deixo primeiro o que faz da cidade um lugar. deixo silenciosamente. quero precisão para abrir a mão sem perder os anéis. e quando irem os anéis entender os dedos que não ficam.
amor é quando você fica
amor é quando você põe em cena
procedimentos do teatro épico
enquanto a cena é de guerra, você toca
'filosofia pura', de roberto mendes
cantado por gal e bethânia
e instala outra sensação
amor é quando você não quer mas seu corpo dança
amor é quando você põe em cena
procedimentos do teatro épico
enquanto a cena é de guerra, você toca
'filosofia pura', de roberto mendes
cantado por gal e bethânia
e instala outra sensação
amor é quando você não quer mas seu corpo dança
ela disse rindo sobre o livro ser aquilo que a gente usa a palavra do pai para referir-se a mãe. não temos certeza de qual lado começa o primeiro passo do forró e simultaneamente escolhemos o mesmo. tropeçamos. não deveríamos mas fazemos. encenamos tentativas enquanto rodopiamos sob a mão da outra no meio da rua que são prioritariamente dos carros nas horas úteis. tem um conhecimento adquirido sobre andar por onde não se deve. como segurar meu rosto diante da incredulidade. e agora que não disfarço, como você vai fazer com os guardanapos de pano não é um problema meu. eu leio moisés sozinha. vocês precisam de muitos garfos enquanto a festa de comer é melhor quando mais próxima do chão. sem talheres.
todo desencontro comove
não. não sou eu quem você procura. o dala fala sobre apostar na desobediência. o tata kasulembê sobre bater de frente no caminho da justiça. o david dias sobre medicina para não morrer de punho cerrado. e me apaixono por todas as coisas que tem coragem de ir. é tempo de recolher os objetos às suas caixas. assim como existe o tempo de dar nome às coisas. há o tempo nas coisas de acontecer algum em si. responder sobre o medo dos outros com a própria vida. é tempo de reparar na queda para fazer teoria da gravidade. é dionne brand que vai dizer, e ser mais graves? jota mombaça de um sentido de si muito quebrado. tudo o que está rompido me comove porque é o conceito de continuidade que me atrapalha. você repete para ter um método. você tem um método para apaziguar o medo. as máquinas também são temperamentais você não pisa no chão de fábrica e quer sua licença para o mesmo chão.
ele falava sobre a diferença entre negar e a negação. e ela ria quando eu me dizia angustiada com as palavras eu vejo a palavra em forma de letra me circular. vejo quando a frase tem alguma coisa de corda. e com medo de matar você não diz e se engana na dupla face da negação. toda palavra caça jeito. eu percebo. são sons de sim.
e tudo o que quero carregar também precisa aguentar o sol.
toda intimidade que se transforma em aproximar espinhos. e lembro da minha mãe dizer o maior amor é uma dor aguda na mesma medida. a perda narcísica é uma ferida em partes de dobrar. deixa eu explicar, quanto mais você mexe menos cicatriza. e ninguém quer uma memória necrosada. eu reparo as palavras que você escolhe porque muitas pessoas se preocuparam em inventar mais de uma palavra para as coisas. as palavras diferentes fazem da mesma coisa outra. porque ouvir é se especializar em nuances. as formas que escolhi de fazer silêncio e não andar na linha.
ir com vigor
talvez seja o mais forte tiro
contra múltiplas formas de morrer
talvez seja o mais forte tiro
contra múltiplas formas de morrer
e quando é a mesma palavra para muitas coisas qual o caminho que você vai escolher?
ando me disparando feito bala
e dizem que eu precisava parar de produzir tantos abandonos. repetir a cena também é uma forma de memória. não é sobre quem está certo ou errado, mas em que cidade as pessoas descansam depois do almoço. as coisas magníficas são superficiais. é o don l que diz é tudo superficial e eu repito não importa se é sua a mentira porque ela é oficial.
não é crime
trabalhar com um pouco da criança
que você conserva para esquecer
o que grita no escuro
trabalhar com um pouco da criança
que você conserva para esquecer
o que grita no escuro
eu vou deixar o que tiver que ir embora
eu vou deixar o que tiver que ir embora
eu vou deixar o que tiver que ir embora
alguma coisa muito antes da mãe me diz alastre-se.
eu vou deixar o que tiver que ir embora
eu vou deixar o que tiver que ir embora
alguma coisa muito antes da mãe me diz alastre-se.